topo
linha2

Fotogaleria

 

» Home » Crónicas e Artigos » Liduino Borba » Homenagem a João Angelo

na Casa dos Açores de Hilmar

 

João e Cecília Pires - uma leitaria em Gustine

 

Texto: Liduíno Borba

Aquando da minha recente estada na Califórnia, Gustine, entre 9 e 30 de Setembro, para a recolha de elementos para o livro do centenário da “IRMANDADE DO ESPÍRITO SANTO DE GUSTINE”, fiquei hospedado em casa do simpático casal João e Cecília Pires, ele natural da Ladeira Grande, Ribeirinha, e ela de São Bento, ilha Terceira, proprietários de uma “Leitaria” naquela cidade conhecida por comemorar a festa de Nossa Senhora dos Milagres.

Foi no escritório (office) da “Leitaria” que tratei de digitalizar, fotocopiar, anotar e reunir todos os documentos necessários ao livro. Para além da colaboração dos proprietários, dos membros da Irmandade – Gustine Pentecost Society (GPS) –, tive a excelente colaboração de Lloyd Vierra (Vieira), um profundo conhecedor de toda a história e pessoas da localidade, e ainda de duas extraordinárias senhoras da Gustine Historical Society – Pat Snoke e Kris Nagle.

João Pires faz parte da última geração que emigrou para os Estados Unidos da América, nos anos 60 e 70, do século XX, e que acabou por dinamizar algumas das nossas festas com uma certa decadência. Este casal faz parte de um grande grupo de pessoas de boa vontade que muito tem contribuído para a pujança das nossas festas e tradições na zona central da Califórnia.

João Pires emigrou em 1973 e, naquela data, ficou a residir no Chino, sul da Califórnia, onde viveu oito anos a trabalhar em leitarias.

Em dezembro de 1981 estabeleceu-se com a sua própria “Leitaria”, em Hilmar, centro da Califórnia, mudando-se pouco tempo depois para Newman, cidade vizinha. Aí permaneceu até setembro de 1992, data em que se muda para Gustine, então com 600 vacas ligadas ao seu negócio de “Leitaria”. Segundo João Pires, as dificuldades foram mais que muitas mas a maior foi a ameaça de falência da “Cremaria” (Creamary) onde colocava o leite, que passou por muitas dificuldades durante dois anos, pondo em causa toda a actividade económica dos seus fornecedores.

João e Cecília Pires sempre acreditaram na força do seu trabalho para enfrentar as diversas crises que tem assolado aquela actividade. Em 2012, têm uma “Leitaria” próspera, na estrada 140, em frente ao aeródromo de Gustine, com cerca de 620 alqueires (cerca de 2600 na Terceira) de sua propriedade, e 430 alqueires arrendados, que alimentam 7000 cabeças de gado, sendo mais de 3000 vacas de leite, ordenhadas três vezes ao dia, num “bando” de carrocel que ordenha 60 vacas em 9 minutos. A produção leiteira diária é de cerca de 120.000 litros, transportados em autotanque própria para a fábrica ali próxima. A receita mensal ultrapassa um milhão de dólares. Para além dos elementos da família esta “Leitaria” emprega 23 trabalhadores.

Como curiosidade, a silagem efectuada em 2012 andou perto das 40 mil toneladas.

Esta “Leitaria” está montada com meios modernos de laboração e obedece a todos os requisitos oficiais e ambientais em vigor na localidade. As entidades oficiais são muito rigorosas na fiscalização desta actividade, nomeadamente no consumo, extração, tratamento e encaminhamento de águas, bem como na relação da dimensão da propriedade com as cabeças de gado existentes. Um certo amadorismo de há uns anos atrás não tem qualquer cabimento nas explorações agrícolas existentes actualmente na Califórnia. Tudo isto acarreta uma série de custos inexistentes anteriormente.

A crise mundial de há dois anos a esta parte também tem afectado esta actividade na Califórnia. Muitas têm sido as “Leitarias” que têm fechado portas nos últimos tempos. Tem havido meses de chegar à dezena. Em 2006 havia cerca de 1600 em toda a Califórnia e o último levantamento aponta para menos de 1200. Ou seja, foram mais de 400 as que encerraram nos últimos tempos, embora parte do efectivo leiteiro tenha sido absorvido por outras.

Muitas delas de portugueses e de dimensão média ou pequena. Uma “Leitaria” que ordenha 300 vacas é considerada pequena, mas a de 500 ainda está no mesmo rol. Com mais de 1000 já se pode considerar média, para se lhe chamar grande já vamos falar de 10.000 vacas leiteiras.

Presentemente há uma certa expectativa quanto ao futuro, depois de muitas terem fechado e terem causado muitas tragédias sociais, porque há alguns indicadores que apontam no sentido de um melhor caminho: o preço do queijo subiu um pouco; as rações não subiram; o subsídio estatal ao milho para etanol é cortado a partir de junho de 2013; a produção de leite baixou, embora não comparativamente ao fecho de vacarias; algumas fábricas já pagaram melhor o último leite, que anda perto dos 20 dólares por cada 100 libras; e, recentemente, tem havido algumas manifestações de “leiteiros” de descontentamento em Sacramento, capital do estado.

É nesta conjuntura que João Pires continua com muita confiança a desenvolver a sua actividade, mas sempre atento a todos os custos duma grande “Leitaria”, que incluídos numa economia de escala são mais facilmente diluídos do que numa pequena “Leitaria”. O facto de produzir uma grande parte da comida com que alimenta o seu gado é uma vantagem comparativa muito grande.

Mais um casal terceirense de sucesso por terras da Califórnia, que tem sabido desenvolver a sua actividade empresarial e ao mesmo tempo contribuir muito activamente nas nossas festas e tradições de forma que as nossas origens culturais não sejam esquecidas pelas terras da diáspora.

Queremos ouvir a sua opinião, sugestões ou dúvidas:

info@adiaspora.com

Voltar para Crónicas e Artigos

bottom
Copyright - Adiaspora.com - 2007